Como ser um professor investigador?

2019-03-28T17:37:49-03:00 28/03/2019|

Utilizar provas e diário de frequência podem ajudar nessa tarefa de perseguir os objetivos de ensino

Por Amanda Amantes Neiva, para a coluna Pesquisa Aplicada, na Nova Escola

Professor investigador é um termo que tem sido usado para designar o professor, coordenador ou diretor que investiga a sua própria prática. O educador, imbuído do caráter investigador, é capaz de sistematizar informações que irão traduzir a eficiência de suas dinâmicas e lhe dar critérios para melhorar suas ações de acordo com os objetivos de ensino. A investigação não se refere a uma pesquisa acadêmica ou científica, mas a mecanismos que dão ao educador parâmetros bem fundamentados para compreender os processos do contexto escolar, além de autonomia para interpretar sua realidade (André, 2006). Mas como fazer isso de forma prática?

Os dados de que o professor dispõe e que podem ser utilizados para essa investigação dizem respeito à rotina da escola, tais como provas, lista de tarefas (checklist), diário de frequência, narrativas dos alunos ou outro material que designe aprendizagem e engajamento. Além desses, o professor também pode se valer de elementos mais usuais da pesquisa acadêmica, como entrevistas, filmagem, gravações de áudio, etc.

Através da análise desses materiais, o professor tem a possibilidade de comprovar como uma intervenção contribui para diferentes aspectos da aprendizagem e avaliar qual é a dinâmica mais adequada para aquele contexto. A análise pode ser feita de diferentes maneiras. Por exemplo: utilizando uma planilha, a contagem de frequência em conjunto com o checklist de atividades dimensiona o engajamento comportamental dos estudantes. Já verificar a mudança das notas ao longo de vários testes em uma única intervenção dão indícios da aprendizagem formal dos conteúdos trabalhados, assim como do engajamento cognitivo. Analisar os textos produzidos pelos alunos, portfólios ou qualquer material de autoria discente pode trazer importantes informações tanto sobre a motivação (a partir dos detalhes das descrições reportadas) como também da aprendizagem do conteúdo (pela incorporação, por exemplo, dos termos formais em seus relatos) e do engajamento emocional.

Na hora de apresentar resultados, é possível traduzir esses dados em gráficos que correspondam à frequência frequência e trajetória de aprendizagem (obtidos pela média de notas em cada teste) e narrativas sobre a mudança na forma de escrita dos alunos, dentre outras. O professor pode ainda traçar perfis individuais e fazer estudos de caso que fogem do padrão da turma.

O professor ou gestor que quiser conduzir investigações mais elaboradas pode coletar outros dados e aplicar métodos de análise mais complexos, como correlacionar engajamento comportamental e aprendizagem conceitual ou identificar quais fatores do contexto interferem para a eficácia de uma instrução específica. As possibilidades são muitas e sabemos que não são simples, pois para cada uma deve haver um investimento de tempo e de aprendizagem do próprio professor. No entanto, o retorno de tais investigações do contexto escolar, com certeza, é significativo, motivador e sobretudo empoderador. A sistematização dos resultados das intervenções informa não só o professor que realiza a investigação, mas também contribui fortemente para o estabelecimento de um conhecimento empírico geral valioso, pautado na prática docente, a ser compartilhado e utilizado para a melhoria de ações pedagógicas que promovam, de fato, um ensino mais eficiente e qualificado.

*Amanda Amantes Neiva é formada em Física, mestre e doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi professora de Ensino Médio na rede privada e na rede pública e é professora de graduação e pós na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Para saber mais o assunto:

ANDRÉ, Marli. Pesquisa, formação e prática docente. In: ANDRÉ, Marli (Org.). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006.

FERRITE, C. J. Inovação na perspectiva pedagógica. In: Garcia, W. E. Inovação educacional no Brasil: Problemas e Perspectivas. Editora Autores Associados.p 61-90.1995

HERNÁNDEZ, F.; SANCHO, J. M.; Aprendendo com as Inovações nas Escolas. Porto Alegre: Artmed, 2000

LÜDKE, A complexa relação entre o professor e a pesquisa. In: ANDRÉ, Marli. (org.) O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 5. ed. Campinas: Papirus, 2006, p.27-54.

VEIGA, I. P. A. inovações e projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou emancipatória? Cad. Cedes, Campinas, v. 23, n. 61, p. 267-281, dez. 2003.

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