Folha de S. Paulo: Só 4 em 10 estudantes da rede pública miram diploma universitário

2018-08-20T11:47:23-03:00 20/08/2018|

Na rede privada, relação é de 7 para 10; dados são de um questionário de 2015

Érica Fraga
SÃO PAULO

Apenas 4 em cada 10 alunos brasileiros de 15 ou 16 anos que frequentam escolas públicas esperam concluir um dia o ensino superior convencional —com, no mínimo, quatro anos de duração— ou uma pós-graduação. Entre os estudantes da rede privada, a relação salta para quase 7 em 10.

Esse retrato emerge dos questionários que os adolescentes do país preencheram ao realizar o último Pisa, teste internacional de aprendizagem, em 2015, segundo levantamento inédito do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional).

 Diferenças de oportunidades ao longo da infância e da adolescência levam os jovens brasileiros a desenvolverem níveis distintos de aspiração. Isso ajuda a criar um hiato de expectativas em relação à formação educacional.
Entre os alunos de escolas públicas, 38% se consideram ambiciosos. Nas particulares, o percentual sobe para 55%. As informações de 17.523 alunos colhidas pelo Iede na base de dados da OCDE (organização responsável pelo Pisa) mostram a cadeia de fatores que explicam esse quadro. O nível socioeconômico da família de uma criança costuma ter grande influência sobre seu futuro. Pesquisas mostram que a escolaridade dos pais é um dos determinantes da aprendizagem dos filhos.

Entre os brasileiros de escolas particulares que fizeram o último Pisa, 42,7% tinham mães com ensino superior completo. No universo dos estudantes das instituições públicas, essa fatia era de 11,5%.

“Tudo começa na primeira infância. O cérebro é desenvolvido a partir da interação com o meio”, diz o economista Naercio Menezes Filho, professor do Insper e da USP. “As crianças nascidas em famílias mais pobres recebem menos estímulos. Quando chegam à escola, já estão defasadas”, completa o especialista.

O ideal é que os pais menos favorecidos recebam orientação e apoio para estimular corretamente seus filhos desde a gestação. Mas iniciativas nessa direção ainda engatinham no Brasil. Além disso, as vagas em creches são insuficientes.

Caberia então à escola reduzir significativamente ou eliminar essa defasagem. O problema é que, no Brasil, isso também não ocorre.

Um exemplo dessa fronteira é a universitária Rubia Muniz Arruda, 18, que sempre acreditou que chegaria ao ensino superior embora tenha feito todo o ensino básico em escolas públicas.

Em 2017, ingressou na faculdade, fronteira que nem o pai, taxista, nem a mãe, cabeleireira, haviam cruzado.

Depois de fazer um cursinho dos alunos do Insper para jovens de baixa renda, passou no vestibular da própria instituição. Com bolsa integral, estuda administração de empresas na faculdade privada.

Estudos mostram, por exemplo, que uma boa gestão escolar é crucial para a aprendizagem adequada. Mas a distância entre o universo público e o privado é significativo.

Os dados analisados pelo Iede revelam que 41% dos alunos da rede pública brasileira não conseguem ouvir o que o professor fala na maioria ou em todas as aulas de ciências —disciplina foco do último Pisa.  Leia a reportagem  completa na Folha de S.Paulo