Professora Gina Vieira: “A escola é o lugar mais potente para a transformação do racismo estrutural”

2021-08-20T14:28:28-03:00 20/08/2021|

Educadora conversou com o Iede sobre desigualdade racial na educação

Precisamos de uma agenda antirracista. A escola é o lugar mais potente para a transformação do racismo estrutural”. A frase é de Gina Vieira, professora da educação básica do Distrito Federal há 30 anos e autora do projeto Mulheres Inspiradoras (agraciado com 13 prêmios até o momento). Gina participou de um bate-papo, no dia 19 de agosto, com o diretor do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria. 

A live, transmitida pelo Instagram do Iede, partiu da questão “como combater a desigualdade racial na educação?”. A discussão surgiu de uma análise realizada pelo Iede com dados do Saeb 2019, com recorte de raça/cor, e que revela que, em todos os estados brasileiros, é menor o percentual de estudantes pretos com aprendizado adequado em relação ao de estudantes brancos. No 5° ano do Ensino Fundamental, em Língua Portuguesa, por exemplo, há 65,1% de estudantes brancos com aprendizado adequado; entre os estudantes pretos, o percentual é de 40,3%. Na mesma disciplina, no 9º ano, os alunos brancos têm desempenho 68,2% superior ao dos pretos (46% com aprendizado adequado contra 27,4%). 

As desigualdades persistem mesmo quando a análise é feita considerando somente estudantes de mesmo nível socioeconômico: em Matemática, no 9º ano do Ensino Fundamental, entre os alunos de nível socioeconômico alto, 34,4% dos brancos têm aprendizado adequado, entre os pretos, 17,3% (diferença de 98,8%). Entre os de baixo, 15,8% contra 8% (diferença de 98%). 

Para Gina, é urgente discutir sobre o racismo na escola, já que todos fomos criados numa cultura profundamente racista.

“Ter baixas expectativas, sentir nojo, dar a entender que a criança negra não vai aprender não são ações vistas como racismo dentro da sala de aula”, considera Gina Vieira

Por isso, ela ressalta a necessidade de políticas públicas antirracistas: “Precisamos pensar políticas públicas da gestão central com secretarias, governo, de maneira articulada, pois estamos falando de um sistema que levou 500 anos para se articular e está diluído nas práticas pedagógicas, nos livros didáticos…”.

Segundo a educadora, para que as mudanças sejam efetivas é preciso “tomada de consciência de classe e raça” e muito estudo: “não se faz agenda para igualdade nas relações raciais no improviso e na boa vontade. Boa intenção não basta, é preciso qualificação técnico-pedagógica”.