Países de destaque em educação também têm dificuldade de garantir o aprendizado de alunos de baixa renda

2018-11-19T14:50:53-03:00 19/11/2018|

Somente duas regiões atingem a média da OCDE em leitura, matemática e ciências no Pisa 2015 quando consideradas apenas as escolas que atendem alunos de baixo nível socioeconômico

Japão e Taiwan se destacaram no último Pisa (Programme for International Student Assessment), uma avaliação internacional de aprendizagem gerida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com 538.4 e 532.3 pontos em ciências, respectivamente, ocuparam a 2ª e a 4ª posição dentre os 73 países ou regiões avaliados. No entanto, quando consideradas apenas as notas das escolas de nível socioeconômico baixo (consequência de atenderem majoritariamente alunos de baixa renda), os dois não chegam à média da OCDE, que foi de 493 pontos.  Esses dados foram obtidos pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) a partir de análise dos microdados do Pisa 2015.

Levando em conta somente as escolas de baixo nível socioeconômico (NSE), o Japão obteria 473.2 pontos, enquanto Taiwan 462.1. Isso está longe de ser ruim. O Brasil, por exemplo, obteve média geral em ciências de 400.7 e, para escolas de baixo NSE, de 382.2.

No entanto, ainda que as médias continuem em um bom patamar, isso sugere que mesmo os mais prestigiados sistemas de ensino do mundo encontram dificuldades de garantir que os alunos de baixa renda tenham o mesmo aprendizado daqueles de nível socioeconômico mais elevado.

Singapura, 1º lugar no Pisa com 555.6 em ciências, não atingiria a média da OCDE se considerados somente os 14.6% de alunos nas escolas de baixo NSE. Eles teriam 489.9.

Quando considerada a pontuação geral, 31 países ultrapassam a média da OCDE em ciências, 30 em leitura e 30 em matemática. Quando contabilizadas somente as escolas de baixo NSE, poucos têm o mesmo desempenho. Veja:

Fonte: Pisa 2015. Tabulado por Iede

Como a tabela acima mostra, as únicas duas regiões que ultrapassariam a média da OCDE nas três principais competências avaliadas (leitura, matemática e ciências) seriam Hong Kong e Macao, na China.

O caso holandês também serve para elucidar a dificuldade em garantir equidade. A média geral dos alunos do país em leitura foi 502.96 (16ª posição dentre os 73). Já os 4% de alunos que estão em escolas que atendem alunos de baixa renda obtiveram quase 100 pontos a menos: 393.46. Considerando que cada 35 pontos, em média, correspondem a um ano letivo de aprendizagem, eles estão quase 3 anos atrás dos demais. Em um ranking feito apenas com essas escolas, a Holanda ficaria na 43º posição para leitura. Veja as comparações na tabela a seguir:

Fonte: Pisa 2015. Tabulado por Iede

Na França há um cenário parecido, com escolas que atendem alunos de baixo NSE com mais de 100 pontos a menos em leitura em relação às demais. Em ciências e matemática a diferença também é expressiva, como pode ser observada na tabela a seguir:

Fonte: Pisa 2015. Tabulado por Iede

Na França, o percentual de alunos que estão em escolas que atendem baixa renda é significativo: 22.6% do total.

O Brasil, por estar em um patamar muito baixo de aprendizagem e com 82.3% dos alunos em escolas que atendem baixo nível socioeconômico, não há diferenças grandes entre os grupos. Pode-se dizer que todos estão em uma condição ruim. Veja a seguir:

Fonte: Pisa 2015. Tabulado por Iede

Garantir a aprendizagem dos alunos de contextos menos favorecidos é um desafio complexo e que não é enfrentado somente pelo Brasil. Como os dados mostram, mesmo os países que são referência em educação têm dificuldade nisso.

Esta análise do Iede embasou a reportagem do G1 “Escolas com mais crianças pobres ficam abaixo da média na maioria dos países do topo de ranking mundial”

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