O Povo: Duas das cem melhores escolas de ensino médio estão em Minas

2019-10-15T14:20:10-03:00 13/10/2019|

Levantamento analisou o desempenho dos alunos de 5.042 unidades de ensino brasileiras

Letícia Fontes, do jornal O Povo

Sem sala de ciências nem quadra para prática de educação física e um contexto em que 60% dos alunos precisam trabalhar para sobreviver. Mesmo que pareça o contrário, essa é a descrição da realidade de uma escola mineira que está entre as cem melhores do Brasil. A escola Professor João Alves Figueiras Campos, em Pedra do Indaiá, no Centro-Oeste do Estado, está em um seleto grupo de apenas 2% das instituições de ensino brasileiras com resultados satisfatórios no Enem e na Prova Brasil e com taxas de aprovação acima de 95%. Em Minas Gerais, apenas duas atenderam esses critérios.

Acesse o estudo Excelência com Equidade no Ensino Médio

O estudo “Excelência com Equidade no Ensino Médio: a dificuldade das redes para dar um suporte efetivo às escolas”, da Fundação Lemann, do Itaú BBA e do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (lede), avaliou 5.042 unidades de ensino que atendem alunos cuja renda familiar é de até três salários mínimos no país. Além da de Pedra do Indaiá, foi destaque em Minas a escola Estadual Coronel Antonio Domingos Ribeiro, em Bom Jesus da Penha, no Sul de Minas.

A reportagem tentou, sem sucesso, contato com essa segunda escola. Mas esteve nainstituição de ensino de Pedra do Indaiá, que é a única de ensino médio na cidade de quase 4.000 habitantes. Cravada no centro do pequeno município, a escola tem 50% dos 103 alunos moradores da zona rural. Para muitos deles, com a ajuda de um ônibus da prefeitura, o caminho é longo para estudar: mais de uma hora.

Segundo a diretora da escola, Aríete Maria Coelho, quase 60% dos alunos trabalham enquanto dividem as atenções com os cadernos. “É um trabalho incansável, o aluno quer parar de estudar para ganhar dinheiro, a gente vai à casa dele, busca. Tenho que convencer todos os dias que eles podem ter um futuro promissor e são capazes de estudar. Eu preciso entender a realidade de cada um deles para saber como eu e toda a equipe podemos ajudar. Os alunos e os professores são muito dedicados também”, explica. “Como eles (estudantes) trabalham, preciso aproveitar o tempo deles da melhor forma na escola, o aprendizado tem que ser aqui. Às vezes, a gente abre a escola à noite, depois do trabalho deles, para fazer monitoria, mas eu tenho que fazer com que eles vejam utilidade no que eles aprendem”, conclui.

No segundo ano do ensino médio, Vítor Pedrosa, 17, é o primeiro da família a chegar tão longe no ensino. Os pais não completaram o ensino fundamental, e os irmãos também pararam antes. Acordando às 5h todos os dias para ir para a escola e trabalhando até as 21h, a vontade de desistir é grande, ele confessa. “Minha mãe queria que eu fizesse faculdade, mas isso é coisa para gente inteligente. Preciso ganhar dinheiro. Estou aqui por ela”, confessa.

Os professores também tentam somar. “A gente tem que ser amiga deles, é uma estratégia para eles quererem voltar também. O ambiente tem que ser bom, porque o que esses meninos passam em casa é muito difícil”, conta a professora Joelma Pedrosa, 32, que viaja quase todos os dias mais de uma hora para lecionar.

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