O Estado de S.Paulo: Ensino integral melhora resultados de escolas pobres no Brasil

2019-10-01T10:28:21-03:00 25/09/2019|

Das 100 unidades com indicadores de qualidade satisfatórios no ensino médio, 82 funcionam em tempo estendido, segundo estudo

Por Isabela Palhares, enviada especial a Goiânia

GOIÂNIA – Assim que toca o sinal indicando o fim das aulas, um grupo de alunos sai correndo das salas. Eles não estão com pressa de ir embora, como seria de se esperar após nove horas e meia de atividade escolar, mas para ir ao pátio, onde vão ensaiar para a fanfarra ou treinar handebol.
Em um colégio onde 30% dos alunos repetiam ou abandonavam os estudos, houve um receio inicial em aumentar o tempo de classe, com o período integral. A solução surpreendeu, fez aumentar o interesse dos jovens pelos estudos e melhorou os indicadores educacionais da unidade.

Em um colégio onde 30% dos alunos repetiam ou abandonavam os estudos, houve um receio inicial em aumentar o tempo de classe, com o período integral. A solução surpreendeu, fez aumentar o interesse dos jovens pelos estudos e melhorou os indicadores educacionais da unidade.

A história da Escola Estadual Professor Pedro Gomes, em Goiânia, tem semelhanças com vários outros colégios de regiões pobres que conseguiram bons resultados por meio do ensino integral. Isso é o que mostra o Excelência com Equidade no Ensino Médio, estudo antecipado ao Estado e desenvolvido pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), instituto que fez o estudo em parceria com Instituto Unibanco, Fundação Lemann e Itaú BBA.

Diversos fatores interferem nos resultados de aprendizado, mas o nível socioeconômico dos alunos é considerado o de maior influência. Das 5.042 escolas do País que atendem estudantes com renda familiar de até 1,5 salário mínimo, apenas 100 obtiveram índices educacionais – em avaliações oficiais do Ministério da Educação – considerados satisfatórios, sendo que 82 delas atendem em período integral.

A principal política defendida pelo governo Jair Bolsonaro para a educação básica, as escolas cívico-militares (de gestão compartilhada entre civis e militares) não estão entre as 100 que alcançaram os indicadores mínimos de qualidade analisados pelo estudo. Nessa seleção apareceram três militares, todas no Maranhão. Segundo os pesquisadores, não há evidências que comprovem ou refute o impacto positivo desse modelo no aprendizado de alunos com alta vulnerabilidade social.alteração das militares.

“Esse resultado não demonstra que o ensino em tempo integral é o único caminho para uma educação de qualidade, mas mostra que praticamente só essas escolas estão conseguindo avançar. Tem sido difícil melhorar sem ser por essa modalidade”, diz Ernesto Faria, diretor do Iede.

A escola Pedro Gomes é uma das mais tradicionais de Goiânia, no maior bairro comercial da cidade, e tinha como principal problema a evasão. Muitos alunos abandonavam os estudos para ir trabalhar nas lojas e lanchonetes da região. “Eles não viam sentido em continuar estudando e sentiam que ajudariam mais as suas famílias se começassem a trabalhar. Não os convencíamos de que a escola era importante”, conta o diretor José Joaquim Neto.

Em 2013, a escola foi uma das selecionadas pelo governo de Goiás para um projeto-piloto de tempo integral e houve muita resistência ao plano, que quase dobrou o tempo de aula, de 5 horas para 9 horas e meia diárias. No primeiro ano de implementação, o colégio perdeu 60 dos 298 alunos. Aos poucos, o interesse dos estudantes e a melhora no aprendizado fez com que a unidade voltasse a atrair as famílias – em 2018, a escola já estava com o dobro do tamanho, com 601 matriculados e só 0,5% de abandono.

Como seus primos e amigos mais velhos, Geovanni Alves, de 18 anos, queria estudar pela manhã e trabalhar à tarde, por isso, não gostou de ter sido matriculado na escola Pedro Gomes no 1º ano do médio. “Achava que já estava na idade de ter meu dinheiro, ajudar em casa. Já no primeiro dia de aula, os professores me mostraram que eu podia mais, que posso sonhar e ter a profissão que quiser se eu terminar os estudos”, conta o jovem, que vai prestar vestibular neste ano para o curso de Design de Interiores.

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