METRÓPOLES: Pais reclamam da falta de material e livros em escolas estaduais de SP

2022-03-21T17:51:32-03:00 21/03/2022|

Matéria originalmente publicada no site Metrópoles e escrita por Gabriela Marçal.

Secretaria de Educação afirmou que é “praxe” os itens serem entregues até dois meses depois do início das aulas

São Paulo – Mais de um mês após o início das aulas nas escolas estaduais, pais reclamam que os filhos ainda não receberam os materiais escolares e livros didáticos fornecidos pelo governo de São Paulo.

Os alunos deveriam ter ganhado canetinhas coloridas, lápis, borracha, giz de cera, lápis de cor e cola. A expectativa dos pais é que no primeiro dia de aula, em 2/2, os jovens já estivessem com esses itens e com os livros didáticos.

“Na fila para buscar as crianças, conversei com alguns pais e ninguém recebeu”, relatou o nutricionista Rafael Senger, 34 anos, ao Metrópoles.

Ele é pai de uma menina de 6 anos que cursa o 1º ano do ensino fundamental 1 na Escola Estadual República do Paraguay, na Vila Prudente, na zona leste de São Paulo.

Rafael está preocupado porque, sem os livros didáticos, tem dificuldade para acompanhar o que está sendo ensinado para a filha.

“Até para retomar algumas coisas aqui em casa, se ela tiver dificuldade. É o primeiro ano do fundamental, tem toda a questão de como ela vai reconhecer a escola daqui para frente, o que vai aprender”, afirmou o pai.

Segundo Rafael, os estudantes dos 3º e 4º anos do ensino fundamental 1 também não tiveram acesso aos materiais.

Prazos

O nutricionista questionou a direção da escola e a ouvidoria sobre o assunto e foi informado que o prazo de entrega dos kits para o ensino fundamental 1 é 30/3.

“Dois meses de prazo para entregar o material após o início das aulas é complicado. É um abandono, vai fazendo de qualquer jeito”, protestou.

De acordo com a resposta da ouvidoria a Rafael, o prazo para a entrega dos materiais e livros aos alunos do ensino fundamental 2 é 14/4. Já os estudantes do ensino médio devem receber os itens até 8/4.

Outros casos

A filha de 6 anos da autônoma Marina Beatriz Poggetto, 35, começou em 2/2 o 1º ano do ensino fundamental 1 na Escola Estadual Dr. Edmundo de Carvalho, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo. Durante o um mês que estudou lá também não teve o kit escolar.

A criança foi transferida e agora está frequentando as aulas na Escola Estadual Alfredo Paulino, no Alto da Lapa, na zona oeste da capital. Essa instituição entregou apenas os livros até o momento e não deu previsão para fornecer os materiais do governo estadual.

“Umas famílias podem mais que outras famílias, mas a ideia sendo escola pública é que todas as crianças tenham os mesmos recursos. Minha preocupação é algumas crianças se sentirem excluídas”, disse Marina ao Metrópoles.

Interior de São Paulo

Os estudantes do 6° ano do ensino fundamental 2 da Escola Estadual Carlos Alberto Galhiego, em Campinas, no interior de São Paulo, também não receberam os materiais e os livros.

A direção da instituição afirmou aos pais que está previsto que os itens cheguem à diretoria de ensino regional em 18/3. Após essa data o kit será destinado às escolas, mas não há uma expectativa de data para ser entregue aos alunos.

Secretaria de Educação

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo justificou ao Metrópoles que é normal os alunos não terem o material escolar mesmo dois meses após o início do ano letivo.

“Como de praxe, a distribuição dos kits escolares estaduais ocorre desde o primeiro dia letivo (2/2) até o fim do primeiro bimestre”, afirmou o órgão estadual em nota.

Segundo a secretaria, as escolas podem usar verbas do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE-SP) para comprar materiais se acharem necessário.

Avaliação

“Ter um cronograma para chegar até o final do primeiro bimestre é um problema, mas não podemos esquecer que a logística é complexa e esses problemas podem acabar acontecendo”, disse o diretor fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Faria, ao Metrópoles.
No entanto, o especialista em educação ressaltou que essa situação não pode ser normalizada. “A Secretaria de Educação tem que buscar entender porque esse problema está acontecendo e o que pode ser feito para não voltar a acontecer. É melhor do que negar a existência do problema”, avaliou.