História de professor: Marilene e o poder do afeto em sala de aula

2021-11-28T18:46:43-03:00 26/10/2021|

Próxima de se aposentar, professora de Rio Negro (PR) aprendeu sobre novas tecnologias e se reinventou na pandemia, mas não abriu mão do afeto como ferramenta pedagógica

O magistério não era a primeira opção de Marilene Nentwig. Seu sonho de adolescente era ser juíza, mas o gosto pela educação começou a despertar já durante o primeiro estágio, que realizou em uma escola particular. Quando assumiu uma sala de aula, em 1988, conta que “seu coração começou a tremer”, pois via que a responsabilidade do aprendizado daqueles alunos dependia dela. Natural do município de Rio Negro, no interior do Paraná, Marilene hoje trabalha com a turma de quarto ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal Vereador Ricardo Nentwig. Sua trajetória em sala de aula  é longa: dos 52 anos de idade, 34 são dedicados  à educação. No início da pandemia, em 2020, ela precisou aprender muitas coisas e atualizar-se das tecnologias. Ela gravou vídeo com as atividades para os alunos, fez videochamadas para tirar dúvidas, e utilizou de formulários do Google para fazer avaliações. “Algo que eu observei é que hoje se o professor não for antenado e não se atualizar, ele vai ser ultrapassado. É preciso se reciclar, se modificar de acordo com o contexto”, pontua ela. 

Desde 2020, Marilene começou a atuar também no projeto Conecta Rio Negro, desenvolvido pela Prefeitura. Nele, ela dá aulas para o quarto ano de todo o município de forma remota, por meio de videoaulas. “Fui convidada pelo trabalho que fiz quando iniciou a parada com as aulas. Minha supervisora gostava que eu fazia vídeos, videochamadas eme convidou para participar do Conecta”, conta. Hoje, seu dia a dia hoje é acordar 6h15, chegar na escola às 7h15 para realizar as gravações do Conecta Rio Negro, depois fazer apostilas, preparar aulas e, à tarde, dar aula para o 4º ano. Às 17h ela se libera para poder passar o resto do dia com o seu filho.

Marilene conta que, quando criança,  teve problemas na alfabetização, pois ficou um tempo afastada da escola logo após a morte da mãe. Mais tarde, após tornar-se professora, decidiu que ajudaria os alunos que possuíam problemas de aprendizagem assim como ela teve. “Eu não queria ser braba ou ser uma pessoa ruim. O aluno não pode ter medo do professor, mas sim respeito. Por isso, acredito na afetividade para facilitar o aprendizado”. 

Para Marilene,  um dos principais desafios de ser professor é conseguir proporcionar aos alunos oportunidades de superarem suas dificuldades e  medos. “O professor precisa ter um olhar diferenciado para as crianças. Isso me motiva a fazer a diferença para as minhas crianças. Se hoje eu continuo assim é porque acredito que o professor tem a arte de ensinar e um poder nas mãos de despertar o interesse pela vida, por ser alguém, por superar seus obstáculos”, conta.

Dentre os diversos projetos que realizou nesses mais de 30 anos de carreira, ela cita alguns que tinham por principal objetivo desenvolver a criatividade e a responsabilidade nas crianças, além, é claro, de auxiliar no desenvolvimento da leitura. Em um deles, os alunos levavam uma boneca para a casa e ficavam com ela durante uma semana, com o objetivo de desenvolver valores como responsabilidade. Ao final, eles precisavam relatar toda a história em um caderno. Outro projeto, foi a Mala do Leitor que ia para casa dos alunos, por uma semana, e a criança e a família precisavam ler e contar uma história, um ao outro. Depois, os alunos compartilhavam em sala de aula como foi a dinâmica. Marilene já confeccionou tambémum livro de poemas com seus alunos, sobre a história de Rio Negro (PR) que, inclusive, rendeu uma noite de poesias, em 2004. No fim, ela cita uma caixinha de música que era acompanhada de vários bonecos e brinquedos. Os alunos tiravam uma música e precisavam cantá-la, com o objetivo de ajudar na memorização.

Ela diz que tem pessoas que falam que ela é hiperativa, mas ela discorda e justifica: “Não consigo deixar os alunos um atrás do outro, em um vidro, para que fiquem quietos, gosto de brincar, conversar  com eles, de achar uma maneira para que prestem atenção”.

A educadora já assumiu a diretoria de escolas, ensinou milhares de alunos a lerem e escreverem, contou histórias, realizou projetos diversos e, em 2022, pretende se aposentar. Para quem deseja seguir carreira na educação, ela deixa um conselho: “É preciso ser afetivo, dinâmico e criativo. É preciso estudar a turma, estimulá-la por meio do afeto. Assim, você vai ter grandes realizações com os alunos e como professor também”.