História de professor: Emanuel usa jogos e gincanas virtuais para ensinar Biologia

2021-11-26T10:24:45-03:00 04/11/2021|

Educador de Caratinga (MG) usa os conhecimentos de ciências da computação para inovar nas aulas e criou também um sistema para auxiliar a gestão escolar

Quando Emanuel está em sala de aula, sente que sua mãe Silma Aparecida de Oliveira Dias – que faleceu em 2010 – está mais próxima dele. Professor de ciências e biologia há 11 anos, Emanuel de Oliveira Dias trabalha hoje na  Escola Estadual Sinfrônio Fernandes, em Caratinga (MG), e na Escola Estadual Dom Cavati, em Ubaporanga (MG), cidades separadas por 19 km de distância. Ele dá aulas do 7º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio e também no Ensino de Jovens e Adultos (EJA). 

Inicialmente, sua intenção não era ser professor. Ele conta que entrou no curso de Ciências Biológicas para realizar pesquisa na área de doenças autoimunes, principalmente porque sua mãe possuía lupus. No entanto, dez dias depois do falecimento da sua mãe, ele foi designado para ser professor em uma escola pública no município de Ubaporanga (MG). “Nesses primeiros momentos, parece que de alguma forma eu me sentia bem, me sentia motivado, gostava de dar aula. Hoje, continuo sendo professor porque eu gosto mesmo. É a minha vida, eu amo ter essa profissão”, diz.

Emanuel acredita que se os alunos gostarem da aula eles vão aprender mais e melhor. Por isso, preocupa-se em cativá-los: a cada início de bimestre ele se reúne com os estudantes e apresenta os conteúdos que irão trabalhar para eles opinarem sobre as atividades que gostariam de fazer.

Mesmo amando a profissão, Emanuel não deixa de pontuar alguns desafios que perpassam o seu cotidiano como educador: um deles é a falta de incentivo para formação continuada.  “Nunca parei de estudar, fiz pós, viajei para congressos… Professor que entende pouco ou quase nada do que está acontecendo, acaba deixando o aluno com menos coisas, pois você não pode entregar aquilo que você não sabe”, destaca. 

Dentro de sala de aula, o educador é inovador nos projetos que propõe, buscando unir a biologia e tecnologia, utilizando-se do conhecimento adquirido durante os quatro anos que frequentou o curso de ciências da computação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Em 2015, Emanuel foi premiado pelo “Professores do Brasil” pelo projeto “Imunoplay”, em que foi  construído um jogo sobre as defesas do corpo humano. Cada estudante ficou responsável por uma tarefa, como roteiro, definição da música, das regras do jogo e da programação em si. “Sair do interior e ir para BH e ser aplaudido de pé no prêmio, me deixou em êxtase, principalmente quando descobri que fui representante da região Sudeste. Foi uma atividade realizada somente entre eu e os alunos, mas que ganhou muito reconhecimento”, conta, animado. 

Outro projeto, criado em 2014, como forma de motivar os alunos pela busca de conhecimento em sala de aula, foi o “Computador não morde, ideia não se esconde”. O professor criou um sistema de sala virtual, com níveis ninja (levando o nome de personagens do desenho Naruto), que dava benefícios aos alunos à medida que avançavam de nível.”Construí mais de 400 medalhas dentro do sistema. Por exemplo, em uma atividade que consistia em correr no centro da cidade, quem participou, ganhou uma medalha. Os alunos gostavam demais dessas atividades. Aí, no final do ano, eu ia com os 10 maiores medalhistas no rodízio de pizza. Era uma atividade complementar, mas que,  infelizmente, agora com a pandemia está desativada”, diz ele, que pretende retomar o projeto tão logo seja possível. 

O “Digitalnomia”, que é fruto da sua dissertação de mestrado, é outro projeto que utiliza-se de tecnologia para ajudar os estudantes a aprender o conteúdo curricular. Foram criadas 35 salas com temas sobre Ciências e Biologia, com desafios diferentes, em um site semelhante ao moodle, com login e senha para cada aluno.” É preciso que os professores tragam mais tecnologia para a sala de aula. Por experiência própria, vejo que isso me ajudou bastante”, diz. 

Os conhecimentos que Emanuel adquiriu estudando códigos e linguagem de programação  o auxiliaram na criação do GEPOD (Gestão Escolar na Ponta dos Dedos), um programa que visa a facilitar a vida dos diretores escolares, tornando mais rápido e automatizado o preenchimento de informações como a frequência dos estudantes. “Antes, demorava seis minutos para preencher os dados de cada aluno, com o sistema, isso leva 30 segundos. Ajudou a na organização”, destaca ele. O projeto foi reconhecido pelo Prêmio Inova MG, em 2020, e Emanuel  teve a oportunidade de apresentar sua  ideia para o governo estadual, com a possibilidade de ser aplicada no estado inteiro.

Além dos projetos com os estudantes e também para ajudar a direção, ele criou uma página de humor no instagram que une Biologia e tirinhas. Caso queira conhecê-la, acesse @rintelectual. O reconhecimento de tanto trabalho não veio só de concursos, mas também da comunidade escolar; “No meu aniversário, todos da escola se juntaram para me dar parabéns em uma reunião on-line e me deram um presente por meio do pix. Arrecadaram R$4 mil como forma de agradecimento pelo meu trabalho na escola”, afirma, orgulhoso. 

Com todos os anos de experiência, Emanuel aconselha quem planeja seguir na área: “Educação não é só amor, mas precisa ter amor. Você precisa fazer isso com amor. Só quem vivencia sabe como é ouvir um obrigado de um aluno”. E relembra: “Nunca pare de estudar, estude de verdade, se entregue”.