Finanças Femininas – Dia do professor: o que é preciso fazer para melhorar o reconhecimento da categoria?

2018-10-26T10:50:21-03:00 15/10/2018|

Por Gabriela Bertoni, do Finanças Femininas

Dia do Professor, comemorado em 15 de outubro, é conhecido como a data que convida estudantes e suas famílias a refletirem sobre uma profissão tão importante para a sociedade. Entretanto, a realidade dos últimos anos é outra: o Brasil ocupa o 1º lugar no ranking da violência contra os docentes.

Essa foi a conclusão de uma pesquisa global realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizada com mais de 100 mil professores e diretores de escolas do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio – alunos de 11 a 16 anos. O levantamento considera dados de 2013.

Na enquete apresentada aos professores brasileiros, 12,5% afirmaram que são vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. Segundo dados da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, o número de agressão aos professores saltou de 74, entre janeiro e maio de 2017, para 214 no mesmo período em 2018.

Outro fator relevante que desanima cada vez mais pessoas a não seguirem carreira na área da docência é a baixa remuneração. Um levantamento de 2017 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostrou que a média salarial dos professores brasileiros é menor que R$ 3,5 mil. O resultado tem como base dados de 2014 do Censo Escolar do Ministério do Trabalho.

Segundo Claudia Bandeira, pedagoga, coordenadora das frentes de trabalho de acompanhamento do Plano Nacional de Educação na instituição Ação Educativa e os Indicadores de Qualidade da Educação, em parceria com o UNICEF, e assessora da Iniciativa De Olho nos Planos, a baixa remuneração contribui para uma carga horária de trabalho excessiva, o que prejudica o desempenho do profissional da educação.

“Além de um desrespeito à categoria, isso afeta a qualidade do ensino. A desvalorização também faz com que a carreira não seja atrativa: pesquisas revelam que pouquíssimos jovens consideram trabalhar como professores. Salas superlotadas, infraestruturas precárias – há escolas que nem saneamento básico têm – também são pontos que afetam o cotidiano de trabalho”, comenta.

Precisamos percorrer um longo caminho para o reconhecimento do professor

Ser professor, especialmente no Brasil, vai muito além do conhecimento intelectual. Para seguir na carreira, é preciso um trabalho psicológico, atenção à saúde e apoio das entidades governamentais. Para Bandeira, qualquer política de valorização da categoria tem que garantir formação inicial e continuada, condições de trabalho, salário digno e carreira, acesso a bens culturais e participação efetiva dos professores nos debates para impactar a elaboração e avaliação de políticas públicas educacionais.

“Precisamos que esses professores sejam tratados e valorizados como profissionais, e não como pessoas que realizam seu trabalho por amor ou vocação. Já dizia Paulo Freire, ‘professora sim, tia não!’. Quanto mais se coloca a docência nesse lugar do voluntarismo e da solidariedade, mais se desvaloriza o docente e se reforça a ideia de que as demandas das confederações e sindicatos de professora(e)s são regalias”, ressalta Bandeira.

Trabalho em conjunto com a sociedade

Escola e sociedade são interdependentes desde o princípio: uma não existe sem a outra. Entretanto, a valorização do professor está cada vez mais esquecida. Para Ernesto Faria, diretor fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), tanto as Secretarias de Educação quanto as famílias precisam respeitar o conhecimento que um professor tem.

“Somente o professor sabe o que vive na sala de aula ao buscar desenvolver um trabalho pedagógico. É fundamental promover um melhor diálogo entre o governo, a direção, os professores e a sociedade. É preciso valorizar e dar espaço e protagonismo para professores com boas práticas, com bons resultados. Há uma dificuldade orçamentária, mas é necessário que existam planos de carreira mais efetivos, a começar por um piso salarial digno”, pontua.

Bandeira ressalta que, na conjuntura atual, a população brasileira é muito diversa e, com isto, os currículos e propostas pedagógicas também o são. “Tendo isto em vista, é importante zelar pelo pluralismo de ideias e concepções pedagógicas e pela liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. Isto está previsto no artigo 206 da Constituição Federal, que estabelece os princípios da educação, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e no Plano Nacional de Educação (PNE)”, conclui.

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