Microdados do Pirls 2021: Meninos de baixo NSE em escolas vulneráveis têm grande desvantagem em relação às meninas

2024-03-14T12:01:01-03:00 02/09/2023|

Meninos de baixo nível socioeconômico, que estudam em escolas consideradas pelos diretores como “desfavorecidas” e com problemas de clima escolar, têm mais chances de chegar ao 4º ano do Ensino Fundamental sem estar alfabetizados. Em contextos de vulnerabilidade, os meninos são mais impactados do que as meninas em Leitura, ao passo que, quando a situação das escolas é mais favorável, a lacuna de desempenho entre os gêneros é menor e ambos têm um desempenho mais próximo. Essas são análises realizadas pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) a partir dos microdados do Estudo Internacional de Progresso em Leitura (Pirls — sigla, em inglês, para Progress in International Reading Literacy Study), uma avaliação global de leitura. Acesse aqui um livreto com as análises

Em escolas mais pobres, os meninos de baixo NSE ficam, em média, 29,6 pontos atrás das meninas do mesmo grupo socioeconômico (393,2 ante 363,6). Já quando estão em escolas cujos alunos têm NSE mais alto, a desvantagem dos meninos em relação às meninas cai para 8,6 pontos (417,2 ante 425,8).

As análises destacam ainda importância do clima escolar: estudantes de baixo nível socioeconômico que estudam em unidades vulneráveis e com problemas de clima escolar (pequenos, moderados ou graves) têm média de 356,5 ante 390,3 daqueles que estão em escolas também vulneráveis, mas sem problemas de clima escolar.

Quando a percepção dos diretores sobre as escolas é mais positiva, no sentido de não serem vulneráveis, a situação de aprendizagem dos estudantes também é mais favorável. E quando essas escolas relatam não ter problemas de clima escolar (indisciplina, bullying, etc.), essa distância fica ainda menor entre os gêneros: meninos e meninas performam em Leitura de forma similar: média de 422,7 para eles e média de 428,9 para elas.

Sobre o Pirls

O Pirls é uma avaliação global de Leitura, aplicada a alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, por iniciativa da Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional (IEA — sigla, em inglês, para International Association for the Evaluation of Educational Achievement). Existe desde 2001 e acontece a cada cinco anos. Em 2021, 65 países ou regiões foram avaliados, sendo que o Brasil fez sua estreia no grupo. Com média de 419 pontos em Leitura, o País ficou à frente apenas de Jordânia (381), Egito (378) e África do Sul (288) e estatisticamente empatado, dentro do intervalo de confiança, com Irã (413), Kosovo (421) e Omã (429).

O Iede realizou uma série de análises sobre esses resultados, divulgados em maio de 2023. Em livreto, disponível para download gratuito no site da organização, o destaque principal foi o alto percentual de estudantes brasileiros abaixo do nível básico em Leitura (isto é, que
não alcançaram 400 pontos): 38,4% do total. Boa parte desses alunos, provavelmente, não conseguiu ler a prova.

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