Apenas 3% dos estudantes brasileiros de baixo NSE têm aprendizado adequado em Matemática, revela análise do Iede com dados do Pisa 2022

2024-03-14T11:58:47-03:00 19/02/2024|

Dados estão disponíveis no QEdu Países, plataforma que facilita o acesso a informações de avaliações e estudos internacionais de Educação

A dificuldade do Brasil com o ensino e aprendizagem de Matemática já é conhecida. Agora, uma nova análise do centro de pesquisas Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) revela que é raro um aluno brasileiro de 15/16 anos de idade, de baixo nível socioeconômico (NSE), ter aprendizado adequado na disciplina: apenas 3,1% conseguem. Entre os estudantes de alto NSE, o cenário é mais positivo, mas, ainda assim, muito distante do desejável: um a cada três tem aprendizado adequado em Matemática.

Acesse aqui os dados do Pisa 2022 no QEdu Países
G1: Entre os alunos mais pobres, só 3% têm conhecimentos adequados de matemática no Brasil, mostra Pisa

Os números foram obtidos pelo Iede a partir de tabulações com os microdados do Pisa (Programme for International Student Assessment) 2022, a principal avaliação de aprendizagem do mundo, e estão disponíveis para consulta no QEdu Países. Esta é uma das plataformas do portal QEdu, que traz, de forma gratuita e com uma visualização bastante intuitiva, dados de avaliações e estudos internacionais da área de Educação. A intenção é facilitar o acesso a essas informações, que, muitas vezes, são disponibilizadas apenas em Língua Inglesa e em bases de dados pesadas e pouco amigáveis.

No caso do Pisa, o Iede considerou “aprendizado adequado” a partir do nível 3 da escala de proficiência da avaliação, que vai até seis. Já o nível socioeconômico dos estudantes foi definido pelo indicador ESCS (Index of Economic, Social and Cultural Status), que é calculado pela OCDE a partir de uma série de informações sobre os estudantes e seus responsáveis, que incluem ocupação e nível educacional deles e acesso da família a bens materiais e culturais, livros, internet, etc. A partir dele, dividiu-se a amostra total de participantes do Pisa em três grupos iguais, com um terço dos alunos em cada. Foram considerados como de alto e de baixo NSE os estudantes de cada país que integram os 33,3% de maior ou de menor NSE, respectivamente.

Os resultados mostram que, nos países da América do Sul, a situação não é muito diferente da observada no Brasil: Argentina e Colômbia registram, respectivamente, 2,9% e 3,4% de seus estudantes de baixo NSE com aprendizado adequado em Matemática. Os índices mais altos da região são de Uruguai (8,5%) e Chile (8,9%), como mostra o gráfico 1.

Gráfico 1 – Percentual de estudantes de baixo nível socioeconômico (NSE) com aprendizado adequado em Matemática, nos países da América do Sul participantes do Pisa 2022

Quando são analisados os alunos de alto NSE, Paraguai, Argentina, Colômbia e Peru têm índices de aprendizagem inferiores ao do Brasil, enquanto Chile e Uruguai, superiores.

Gráfico 2 – Percentual de estudantes de alto nível socioeconômico (NSE) com aprendizado adequado em Matemática, nos países da América do Sul participantes do Pisa 2022

Nos países desenvolvidos, que integram a OCDE, o percentual de estudantes de alto NSE com aprendizado adequado em Matemática é de 63,6%, enquanto os de baixo é de 20,3%. O grande destaque na disciplina é Cingapura, onde 91,9% dos estudantes de alto NSE têm desempenho adequado, ante 55,4% dos alunos de baixo NSE. “Um dos grandes problemas do Brasil é a desigualdade e a garantia de uma educação de qualidade para poucos. O País até tem um pequeno grupo de elite que aprende como um aluno de país desenvolvido, mas os estudantes de baixo nível socioeconômico da rede pública, em geral, não têm conseguido obter bons níveis de aprendizagem”, afirma Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Iede.

Em 2022, Matemática foi foco do Pisa, assim como em 2012 e 2003. Isso significa que há mais itens da disciplina e as perguntas do questionário também são direcionadas. Vale ressaltar que, recentemente, o Iede publicou o informe “O cenário do ensino de matemática no Brasil: o que dizem os indicadores nacionais e internacionais”, que, além de um amplo diagnóstico da situação de aprendizagem dos estudantes do País, identifica onde estão localizadas as escolas públicas que se destacam na área.

Ciências e Leitura

Em Ciências e Leitura, as desigualdades de aprendizagem entre os grupos também são muito expressivas. No Brasil, enquanto 54,9% dos estudantes de alto NSE têm aprendizado adequado em Leitura, apenas 13,9% dos de baixo NSE encontram-se na mesma situação. Em Ciências, 49,6% ante 9%. Os gráficos 3 e 4 trazem a comparação entre os países da América do Sul para Ciências, enquanto os gráficos 5 e 6 para Leitura.

Gráfico 3 – Percentual de estudantes de baixo nível socioeconômico (NSE) com aprendizado

Gráfico 4 – Percentual de estudantes de alto nível socioeconômico (NSE) com aprendizado adequado em Ciências, nos países da América do Sul participantes do Pisa 2022

Gráfico 5 – Percentual de estudantes de baixo nível socioeconômico (NSE) com aprendizado adequado em Leitura, nos países da América do Sul participantes do Pisa 2022

Gráfico 6 – Percentual de estudantes de alto nível socioeconômico (NSE) com aprendizado adequado em Leitura, nos países da América do Sul participantes do Pisa 2022

Sobre o QEdu Países

Além de simplificar o acesso a informações de estudos e análises internacionais da área de Educação, o QEdu Países joga luz às desigualdades existentes nos sistemas de ensino, ao possibilitar recortes dos dados por nível socioeconômico e por gênero dos estudantes. A plataforma disponibiliza ainda uma série de funcionalidades que permitem customizar a experiência do usuário: no menu lateral esquerdo, é possível, por exemplo, selecionar todos os países que participaram do Pisa, ver os dados por continente ou somente a média dos países da OCDE. Os resultados podem ser ordenados por ordem alfabética, NSE ou ainda para exibir os países que apresentam as maiores ou menores desigualdades.

Além de dados do Pisa, há também informações do relatório Education at a Glance e da Teaching and Learning International Survey (Talis). Através do primeiro, é possível conhecer qual o salário médio dos professores em cada País e a distribuição etária deles; as despesas públicas em Educação como porcentagem da despesa total do governo; a proporção de professoras mulheres; quantidade de alunos por professor; tempo obrigatório no ensino básico, etc. Já a Talis visa compreender as condições de trabalho dos professores e diretores escolares e a percepção deles sobre fatores relacionados ao clima escolar, desenvolvimento profissional, liderança, gestão, entre outros.

O QEdu Países é uma iniciativa do Iede e da Fundação Lemann, com apoio da B3 Social e do Itaú Educação e Trabalho.

Acesse aqui os dados do Pisa 2022 no QEdu Países
G1: Entre os alunos mais pobres, só 3% têm conhecimentos adequados de matemática no Brasil, mostra Pisa